União das Freguesias de Antuzede e Vil de Matos União das Freguesias de Antuzede e Vil de Matos

História

Antuzede

Segundo um foral do Sec. XV, cujo original está guardado nos Arquivos de Santa Cruz, a grafia do lugar aparecia escrita como “Antozende”. O povoamento destas terras deverá ter sido feito em finais do Sec. XI. Um dos seus primeiros proprietários foi o mercador Roberto e sua mulher Especiosa, a quem, em Fevereiro e Setembro de 1122, o colimbranus e vassalo de D. Teresa, Soeiro Pereira Guterres (e sua mulher Elvira Zacarias), compra uma propriedade que nos surge muito bem delimitada (a E-Alcarraques; a W-Rio Frio, a N – Trouxemil e a S – a água do Bolão). 

Esta propriedade ou herdade foi igualmente pertença de Mariana Soares, sua filha, e seu marido, que mais tarde fazem testamento (Março de 1142), ao Mosteiro de Santa Cruz.

O repovoamento, necessário para a zona e esta doação, fizeram com que o próprio Mosteiro, tentasse alargar os seus domínios, aliás acobertados por Afonso Henriques e pelo Arcebispo D. Telo, fundador do Mosteiro. Outras propriedades chegam à sua posse, através de uma compra a Adozinda Gomes e a seu filho Pedro Mendes, ao que parece uma grande propriedade, possivelmente a terça parte do todo o Antuzede. Por volta de 1170, em Janeiro, uma outra propriedade é comprada a Fernão Peres. A aquisição de terras por parte dos Mosteiro, não abranda e recuando ao ano de 1165, foi comprada mais uma propriedade a Maria Trutuzendes e seu filho Fernando Pais, esta ficando já na periferia, em S. Facundo, que tinha sido freguesia até 1850, mas que está englobada em Antuzede. Mais tarde, esta mesma propriedade, foi doada por D. João III, à Companhia de Jesus e a partir de 1733, à sua extinção passou a pertencer à Universidade de Coimbra.

Todos estes anos, foram de guerrilhas entre Santa Cruz e a Sé de Coimbra, pela posse das terras. S. Facundo, teve esses problemas de pertença a uma ou a outra instituição, até que uma Inquirição emanada pelo Papa Inocêncio III, em 1200-1201, legitimou como verdadeiro possuidor, o Cabido da Sé de Coimbra, no que se refere a direitos eclesiásticos, pois parece que a documentação do Sec. XV coloca S. Facundo como terras pertencentes a Santa Cruz. Helena Cruz Coelho refere igualmente que “os religiosos possuíam nesta área 222,5 casais e avultado número de jeiras no Bolão. Em S. Facundo possuíam 12 casais”. 

Chega-se então à conclusão, que na segunda metade do Sec. XII, este lugares eram herdade do Mosteiro de Santa Cruz, e por isso também chamada Herdade dos Frades Crúzios, ou Herdade Crúzia. 

O Mosteiro tinha aqui toda a sua jurisdição. “Entre outros previlégios, os caseiros do Mosteiro tinham o de não serem obrigados a pagar para a levada dos presos, nem a darem aboletamento a soldados (obrigação de alojar tropas, ou pessoas anexas ao exercito, em casas particulares em virtude do Boleto, bilhete ou boletim militar ou civil, passado pela autoridade competente, e ao que devia obedecer o dono da casa). Esta sentença foi-lhes confirmada pela Relação do Porto, a 4 de Fevereiro de 1589 e 22 de Maio de 1590. ”O imposto que os camponeses tinham que pagar era a chamada eirádega, imposto de exploração da terra, que a Cidreira era fixada por trigo, centeio e cevada.

O ministrar dos sacramentos aos moradores, deveriam ser feitos em Santa Cruz, uma vez que era a sede da paróquia e dela dependia toda a vida pastoral. O número de camponeses foi crescendo e deslocar-se à sede demorava muito tempo, a tal ponto que os fregueses fizeram uma petição para a construção de uma igreja neste lugar de Antuzede. 

O monumento foi construído em 1592 a expensas de Santa Cruz, no que se refere à Capela-mor, enquanto que o corpo da Igreja foi feito à custa do povo. A passagem da herdade dos Frades Crúzios para freguesia deve ter sido no ano de 1592. Parece ter ficado acordado que “em obediência à antiga paróquia os fregueses obrigavam-se três vezes no ano à Igreja de João de Santa Cruz, no dia de Corpo de Deus, no dia de Santa Cruz de Maio e no dia de S. João Batista, o que fizeram até ao Sec. XVIII.

O lugar de S. Facundo tem uma igreja àquele Santo, de grandes proporções, o que indica que tenha sido uma sede de paróquia, com jurisdição própria. Refira-se igualmente o diferendo que houve em relação à introdução da cultura do arroz, o que parece não ter sido fácil.

Esta cultura necessita de grandes quantidades de água, em locais próprios e pantanosos o que favorecia o aparecimento de febres mortais. Este problema terá chegado ao conhecimento da Mitra de Coimbra e a figura do Bispo-Conde, D. Manuel Correia Bastos Pina, terá intercedido a favor dos populares.

Em 1930 a freguesia contava com os seguintes lugares:

- Cidreira, Geria, Póvoa do Pinheiro, Quinta do Marco, Serra, S. Facundo e as seguintes quintas: Quinta Grande, Quinta da Madre de Deus, Quinta do Outeiro, Quinta da Ponte, Quinta da Quintã e a Quinta do Seco.

Existe uma história curiosa que nos é contada por Pinho Leal, em Portugal Antigo e Moderno, que teve lugar no ano de 1851 e que se refere aos enterramentos no cemitério da freguesia. 

O pároco não quis enterrar uma mulher que recentemente tinha falecido. Por caridade outras duas mulheres do lugar, tomaram a iniciativa de a enterrarem contra a vontade do padre. Vendo-se ultrapassado e ultrajado na sua autoridade, solicitou o envio de tropas para desenterrar a defunta. O povo opôs-se a tal injúria e o confronto com as tropas foi severo, tendo havido bastantes baixas parte a parte. A conclusão deste macabro acontecimento, protagonizado pelo pároco refere que foram presos cinco cabeças do motim.

 


Vil de Matos

O povoamento do território que circunscreve a atual freguesia de Vil de Matos  é muito anterior a fundação da Nacionalidade, conforme o comprovam os vestígios arqueológicos como “Mourellos” em anos anteriores aos do século XII, por outro.

Apesar de não existirem notícias concretas sobre as características da população durante os primeiros anos da Nação, presume-se quem na época, Vil de Matos fosse ocupada por foros de cavalaria ou de jugaria.

Os documentos sobre a divisão administrativa da época da sua fundação também não abundam no entanto, sabe-se que pertenceu ao concelho de Anca, tal como já se verificava na transição do século XV para o XVI. Assim no cadastro da população de 1527, refere-se qye a vila de Ancã e seu termo, incluindo Vil de Matos, era do senhorio de D. Luís de Castro. Em 31 de Dezembro de 1853, data da extinção deste Concelho, Vil de Matos passou para o município de Cantanhede onde permaneceu até 24 de Outubro de 1855, data em que transitou para o de Coimbra onde continua nos nossos dias.

A erecção paroquial também é obscura e parece ser obra da igreja de Barcouço, depois da Idade Média, já que até então não era referida.

“(…) A segunda Igreja Paroquial he Curado, que apresenta o Prior de Barcoço e tem estes lugares anexos, Matos com quarenta vizinhos, Santa Anna com vinte & huma Ermida desta Santa, a Costa com trinta, Rios Frios com sessenta & huma Ermida de São Thomé, & Mourellos com dez”.

Em termos económicos, Vil de Matos era uma grande produtora de milho, trigo, centeio, cevada, feijão, vinho de mesa muito bom e arroz. A cerca de orizicultura e dos problemas que esta causava a saúde pública, Pinho Leal, no seu Portugal Antigo e Moderno (1886), discorre algumas considerações polémicas.

“(…) Este ultimo artigo constitue hoje uma das producções mais importantes d’esta parochia mas tem dado origem a febres devastadoras, muitos desgostos muitas desordem e grandes questões que promettem reviver.

A cultura do arroz tem sido uma mina para muitos propriétarios d’este distrito, mas foi uma verdadeira praga para esta e outras muitos parochias…

(…) Data de 1864 ou 1865 a cultura do arroz n’esta parochia.

O dr. Eusébio Rodrigues Marques, de Coimbra, comprou uma grande porção de terreno no sitio de Val Travesso, semeou-o todo de arroz em um d’aquelles annos e, como de 1866, 1867 e 1868, desenvolveu-se porém logo uma medonnha epidemia de febres pestilências n’esta freguesia e na de Barcouço, sua limitrophe, a ponto tal que os habitantes das suas parochilas e da de Ançã resolveram fazer justiça por suas mãos.

Em certo dia aprasado (um Domingo), reuniram-se na ponte de Mourelles alguns centros de pessoas – homens e mulheres, velhos e novos, padres e seculares -, invadiram os arrosaes do dr. Eusébio e d’outro e destruíram-nos completamente todos(…)

Instaurou-se processo contra os delinquentes, mas ninguém ficou culpado, porque as testemunhas inqueridas disseram que aquelles destroços foram causados pelos habitantes das três freguesias em massa, sem distinção de pessoas (…)”

Tal atitude fez esmorecer os proprietários dos arrozais que, ao longo de dez anos, sensivelmente, não praticaram a orizicultura. De facto, entre 1868 e 1876, a saúde pública desta e das freguesias limítrofes melhorou consideravelmente. A partir desse ano, porém a “sacra fames auri” levou alguns proprietários a praticar a cultura do arroz que, por sua vez, provocou o aparecimento das fatais febres que quase o esforço de Sr. Bispo-Conde, D. Manuel Correia de Bastos Pina, e de mais alguns beneméritos que, pela sua influencia, conseguiram travar tal desvario.

Não obstante, em 1883, dois especuladores de Mira arrendaram as terras de Vale Travesso ao Sr. Alberto Ferreira que logo as plantou de arroz. O Pároco de Vil de Matos e restantes paroquianos, revoltados, assinaram uma petição e entregaram-na ao Governador Civil de Coimbra, que prometeu ajudá-los na luta contra a orizicultura, tão nefasta para as populações destas freguesias. Embora tenham recebido o aval do Governador Civil, as populações temiam ter de recorrer novamente a violência, pois sabiam que apesar de nefasta para eles, a orizicultura contribuía para o desenvolvimento económico da região.

Pinho Leal, em obra anterior citada, refere-se a esta situação injusta referindo que são já muitos os decretos e os ofícios publicados acerca desta contenda, incentivando, por isso, a leitura da “lei de 1 de Julho de 1876, os officios que o sr. Bispo-conde dirigiu ao governo com data de 7 de Janeiro e 26 de Fevereiro de 1881, - e 15 de Fevereiro de 1882 -, a Pastoral do mesmo sr. Com data de 3 de Abril do mesmo anno, - o nº 1 das Instituições Cristãs, 1ª serie, 1883, pag. 14, - e o nº 8 das mesmas Instituições, 1ª serie do 2º anno, 1884, pag. 249”.

Todavia, não deixa de referir que “tudo isto corre impresso e toma evidentíssima a nefasta influencia dos arrozais sobre a higiene publica nomeadamente nos concelhos de Coimbra, Motemor-o-Velho, Figueira, Soure Pombal, Condeixa e Leiria, - mas para se formar ideia de quanto podem o sophisma e a sede de lucro, ou a sacra fames auri, devem ler-se também, como reverso da medalha neste assunto, as celebres cartaz de Amaro Mendes Gaveta, pseudonymo de um dos mas laureados poetas contemporâneos, grande cultivador dos arrozais no distrito de Coimbra. 

Apesar de haver sido terminantemente proibida a cultura dos arrozais em 1867 e 1882, ela teve um incremento de 80 p. c. nos últimos 10 anos, calculando-se em 1800 hectares o chão empregado hoje na dita cultura.

Isto é official.

Na correspondência de Coimbra para o Comercio do Porto que é sem contestação o jornal menos faccioso e mais serio de todo o nosso paíz, se lia com data de 20 de Setembro ultimo (1884) o seguinte.

«Já principou a colheita do arroz, cuja produção é abundantíssima. A este respeito podem informar que nunca a oryzicultura no distrito de Coimbra tomou tanto desenvovimento como no presente anno. 

E isto apesar de todas as leis, portarias, decretos e comissões! As doenças originadas nas emanações, deletérias d’estes verdadeiros pântanos também este anno recrudesceram, havendo povoações onde as febres intermitentes teem feito grandes estragos.

E lamentável que a saúde dos povos esteja a mercê do capricho a ambição dos potentados monetários e doa influencias políticas, que são os que aqui, como em toda a parte, querem e defendem os arrozaes»” 

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